A camisa não desce!

SÃO PAULO (longo e tenebroso inverno) – Ressuscitando este blog, venho falar de uma quase-morte no futebol: a queda do River Plate para a série B argentina. Como corintiano que sou, conheço o sofrimento de uma queda para a segundona na pele. Dói. É triste. É inacreditável. É inimaginável. E chega-se a pensar loucuras nesses momentos.

Sim, loucuras. Pelo nosso time de futebol, às vezes fazemos sandices. Porque o torcedor é apaixonado, é amoroso, é fiel, é súdito e subserviente ao seu clube do coração. O torcedor, um ser humano como todos os outros, adota seu clube como instituição mais sagrada que quase qualquer coisa nessa vida. Troca-se de profissão, de ideia, de esposa/marido, de religião e até de sexo, mas não se troca de time!

É por esse amor exacerbado que alguns “hinchas”, como são chamados os torcedores argentinos, fiéis ao River Plate (clube que, diga-se en passant, não tenho nenhum dó), sugeriram no Facebook uma loucura: mudar as cores do uniforme para que a camisa permaneça na primeira divisão, assim jogam a segundona com outra e escrevem a história como eles desejariam que fosse escrita. Mais de 7 mil já aderiram…Camiseta "enlutada" del River

A explicação beira o desespero: assim, com uma faixa preta no lugar da tradicional vermelha, não haveriam fotos, imagens ou nada que um dia provasse que o River jogou a “B”, e as gerações futuras seriam poupadas desse vexame.

E é realmente um vexame. O sistema de ascensão e queda no campeonato argentino dá-se por uma média dos últimos três campeonatos, ou seja, para ser rebaixado é preciso que o time tenha jogado mal três temporadas seguidas. E nunca o River havia sido rebaixado, o que culminou com uma pequena guerra nas ruas de Buenos Aires. Há quem diga supersticiosamente que os patrocínios brasileiros na camisa (Petrobras e Tramontina) ajudaram na queda, mas é papo para outra hora.

A sugestão, polêmica ao extremo, não deixa de ser interessante. Eu não acredito que será feito algo nesse sentido, seria radical demais e, se por um lado essa forma de protesto (em luto) pode dar certo por não mexer ainda mais na ferida aberta poupando a camisa de aparecer em registros da segundona, por outro aumenta mais a vergonha do clube por não assumir seus erros e não erguer a cabeça para sair do atoleiro da vergonha onde se enfiou.

Veja o vídeo – que arrepia – e tire suas próprias conclusões.

“Nós temos um plano, um antídoto, uma cura. Não podemos apagar o passado, porém podemos apagar o futuro. Sim, vamos fazer com que o que vem não fique na história. Que nunca passe. Que ninguém o possa ver. Como? Muito simples: deixemos a camisa na Primera. Joguemos na B Nacional com outra. Com a banda negra, que nos cruza o peito, que mostre como nos sentimos ao não estar onde devemos estar. De luto”

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