Valeu, Marcão!
São Paulo (Fim de uma Era) – Acabou. O goleiro Marcos se aposenta dos relvados. O São Marcos de tantas defesas cansou de fazer milagres debaixo das metas palmeirenses, o corpo cansou, a idade pesou, o coração doeu, mas o adeus veio.
Não adianta, isso será falado em qualquer noticiário hoje, essa semana, o ano todo. Com especiais. Com melhores lances (haja tempo), defesas incríveis (haja coração), cenas bisonhas (haja memória), entrevistas (haja paciência) e muitas lembranças (haja lenço), boas e ruins.
Marcos Roberto Silveira Reis, nascido em 4 de agosto de 1973 em Oriente, cidadezinha no interior de São Paulo, fez sua estreia pelo Palmeiras em 16 de maio de 1992. Desde então só deixou seu clube para defender a camisa do Brasil. E agora, quase 20 anos depois, deixa o gramado para entrar na história do futebol.
E entra pela porta da frente.
Para este jornalista, fica a satisfação de ter acompanhado contemporaneamente a trajetória deste goleiro fantástico. Sujeito de sorriso fácil, Marcos fala o que pensa. O que é raríssimo nesse meio.
Marcos é da espécie de futebolista que consegue arraigar simpatia até mesmo dos torcedores de agremiações arqui-rivais. E com ele, essa espécie está extinta.
Mesmo defendendo um pênalti e elminando meu time do coração de uma Libertadores, não consigo ter raiva dele. E é difícil achar algum torcedor que, mesmo sabendo da identificação dele com o clube alviverde, não o quisesse defendendo as metas do seu time, seja qual for.
Talvez porque sua humildade, o jeito falastrão e desencanado, o ar caipira, o aproximassem do povo da arquibancada de maneira ímpar.
Talvez pelo pentacampeonato mundial com o Brasil em 2002, onde saiu injustamente com o título de segundo melhor goleiro da Copa, quando era notoriamente o melhor.
Talvez por falar a verdade e soltar o verbo nos companheiros que não se esforçavam tanto quanto ele. Talvez por recusar uma proposta de ir jogar na Europa e demonstrar seu amor ao clube e à torcida. Talvez por arrancar risadas com suas histórias e seu jeito de ser em cada entrevista. Talvez por tomar um cafezinho desdenhoso durante uma partida. Talvez por jogar seguidamente com dores. Por jogar de corpo e alma.
Talvez, por tudo isso e mais um pouco, que não consigo explicar.
A notícia triste da aposentadoria do campeão foi anunciada pelo gerente de futebol do Palmeiras, César Sampaio, após a reapresentação da equipe nesta tarde de quarta-feira, na Academia de Futebol.
São Marcos pendura as luvas aos 38 anos. É cedo. Vai deixar aquela vontade de ver mais um jogo, mais uma defesa, mais uma vez os joelhos na grama e os dedos levantados.
Mas é o suficiente. 20 anos de Palmeiras, 530 jogos, 13 títulos e uma estrelinha a mais na camisa canarinho são apenas um resumo do que foi a ‘Era Marcos’ no futebol do Brasil.
Será lembrado sempre como um dos grandes, um dos gigantes, um dos maiores, no hall da fama dos craques que desfilaram nos gramados tupiniquins. Que fez da camisa 12 a titular.
O jogador para, mas o ídolo é eterno. A figura é insubstituível.
Valeu, Marcão, foi uma honra ter visto você jogar. E vê se aparece para contar as histórias na TV, iremos sempre ouvir!
'SÃO MARCOS' DÁ ADEUS AOS GRAMADOS