São Paulo (Demorei!) – Queimei a língua. Nico Rosberg e sua Mercedes subiram no lugar mais alto do pódio na China, quem diria. Mas eu avisei que estava torcendo por um resultado como esse, visto que a pista em Xangai favorece os prateados alemães.
Eu não achava que a Mercedes fosse ganhar, mas ganhou. E parece que as coisas estão mudando um pouco nessa temporada. Nico, que pela primeira vez venceu na Fórmula 1, é o primeiro vencedor diferente em 3 anos, se não me engano desde Mark Webber em 2009, no GP da Alemanha. E, antes de entrarmos nos detalhes da prova, umas estatísticas dessa vitória de Rosberg: o alemão é o quinto piloto da história a ter demorado mais para ganhar sua primeira prova, que conseguiu somente após 111 GPs, atrás do australiano Mark Webber (130 GPs), do brasileiro Rubens Barrichello (124), do italiano Jarno Trulli (117) e do inglês Jenson Button (113). Para aumentar a importância do feito, Nico também é apenas o segundo filho de campeão mundial a vencer uma corrida de Fórmula 1. Seu pai, o finlandês Keke Rosberg venceu o título em 1982. O outro foi Damon Hill, filho de Graham Hill, bicampeão em 1962 e 1968.
Três corridas, três vencedores diferentes, cada um de uma equipe. Esse triunfo do time de Ross Brawn põe mais pimenta no molho da F1 neste começo de temporada. A Mercedes deve brigar por mais do que pontos e é válido pensar que pode beliscar umas vitórias, já que a Red Bull não se achou ainda e a Ferrari vai sobrevivendo como pode. E a McLaren tá lá, aparecendo em tudo que é foto com seus dois pilotos e assim lidera as duas classificações. Hamilton, terceiro na prova, assumiu a ponta com 45 pontos e nenhuma vitória (foram três terceiros lugares). Button, segundo em Xangai, vem logo atrás com 43 pontos
Fato é que Nico soube aproveitar sua pole e largou bem, parando um pouco mais tarde que os outros por ter feito poucas voltas na classificação, tendo mais borracha para gastar num carro que devora pneus com fome de glutão. E deu sorte de ter Button e Hamilton largando lá atrás, senão a disputa pelo primeiro lugar seria bem mais intensa do que a aparente folga que os 20 segundos de vantagem para Jenson apontaram. Além disso, Button teve um probleminha num dos pit stops e voltou meio atrasado para a pista. Mesmo assim, não chegaria em Nico, que fez duas paradas contra três do time de Woking.
A McLaren parece ter até agora o carro mais forte do circo, mas vai ter de lidar com a luta interna entre dois campeões e que são novamente postulantes ao título. Liberar a briga entre seus pilotos é praxe na escuderia, só que isso pode se tornar uma vantagem para Rosberg, que claramente vislumbra uma luz. Que comemore muito enquanto pode e aproveite o bom momento para pontuar o máximo que der. Talento ele tem, e agora, também tem carro.
Seu companheiro, Schumacher, poderia igualmente ter feito uma boa prova, mas perdeu a corrida num erro de box, quando foi liberado antes da roda dianteira direita estar totalmente presa e teve de abandonar. Triste. Queria ver o heptacampeão de novo no pódio.
A Red Bull está claudicante, sentiu o golpe da proibição do difusor soprado e o carro ficou instável demais na parte traseira. Nem o “novo” escapamento velho de Vettel deu resultado satisfatório. É bom lembrar que a equipe austríaca vem com um novo pacote para a temporada europeia a partir de Barcelona, mas antes tem de se virar como pode no GP do Bahrein, no próximo domingo. Sebastian largou em 11º e vinha jantando todo mundo, até ser o 2º a duas voltas do fim, mas foi sendo ultrapassado e garantiu um 5º lugar ao menos, sofrendo com o desgaste de pneus. Webber achou que seu carro tinha asas e quis voar na zebra; quase conseguiu e chegou em 4º. É importante conseguir o máximo possível de pontos nesse começo antes de tentar dar a virada na Espanha.
Boa corrida também fez Grosjean, que conseguiu completar uma prova esse ano, 6º lugar para ele. Já Kimi Raikkonen apostou numa estratégia e não deu certo. De repente, perdeu 10 posições em duas voltas. A Lotus tem um bom carro, mas é bom ficar de olho com tantas chances perdidas. Eric Boullier que o diga; está perdendo cabelos com isso.
E a ótima suspresa do GP chinês foi a Williams, que fez um carro acertadinho e que casou muito bem com o motor Renault. Bruno Senna repetiu o bom desempenho da última prova e, com ultrapassagens arrojadas e muita vontade, fez um bom 7º lugar com consistência. Só que de novo se encontrou com Felipe Massa, dessa vez na largada. Deu sorte que o pedaço da asa dianteira que quebrou não fez muita falta. De lambuja ainda chegou na frente do companheiro Pastor Maldonado e vai se firmando como escolha certa da equipe. O venezuelano chegou uma posição atrás após um ótimo duelo com Alonso e fechou a conta para o time de Grove, com os dois carros nos pontos. Sir Frank Williams deve estar sorrindo até agora.
Por falar em Alonso e Massa, a cada dia constatamos que a vitória do espanhol foi mesmo mágica, quase um alinhamento interplanetário. A Ferrari é um Fiat 147. Não anda e quase atrapalha quem vem atrás. É de chorar. Fernando foi 9º e Felipe o 13º, o que mostra a real posição do time nesse início de campeonato. E o brasileiro ainda não pontuou. Ao menos o time acertou nas táticas de corrida (apenas duas paradas para Massa), mas o carro é imprevisível no comportamento, do dia para a noite ele muda a reação. O gato subiu no telhado para o time vermelho. Além de tudo isso, essa semana se confirmou na imprensa italiana que Sergio Pérez fará testes em Mugello no começo de maio, antes de Barcelona, na pré-temporada europeia. O óleo da fritura de Felipe vai se esquentando ao poucos…
Checo, por sua vez, merece um puxão de orelhas de Peter Sauber. Na hora que estava sendo ultrapassado por Kobayashi na reta quase jogou o companheiro pra fora da pista. O mexicando vem adando bem ultimamente, mas o segundo lugar não dá permissão para querer ser estrela da equipe. E o japonês decepcionou na corrida. Tinha gente apostando em pódio (este que vos escreve, inclusive), mas o 10º lugar pareceu muito pouco pelo que vinha sendo mostrado. A equipe tem um bom carro e uma boa dupla, mas essa instabilidade atrapalha um pouco.
De resto, a Force India foi a melhorzinha com Di Resta em 12º e Hulkenberg em 15º, corrida honesta da equipe, que mostra algum potencial para ficar à frente do resto. E o resto fez o de sempre, duas Toro Rosso, uma Caterham, duas Marussia, duas HRT e a outra Caterham.
O problema agora é ver como será o GP do Bahrein, em Sakhir. Manifestantes prometeram atuar durante a prova e nas imediações do autódromo contra a corrida. A polícia barenita já disse que não tem como garantir total segurança para o fim de semana. Os milhares de dólares recebidos por Bernie parecem ter jogado areia nos olhos da categoria, que faz vista grossa para a situação do país. Teve até mecânico que se recusou a viajar. Os pilotos não vão se manifestar, vão se comportar como cordeirinhos e correr como o chefe mandar. Bando de bundões. Poderiam ter uma consciência política aflorada, haja visto como o mundo está globalizado e não há como deixar de ver o que acontece, mas preferem se omitir. Poderiam falar um simples “não, não vamos correr e pronto”, e adiar essa prova. Mas, por negligência, vão ignorar o que está do lado de fora. A pilotaiada já foi mais ativa, mas parece que têm medo de manchar a imagem, de ficar mal na fita com o chefe, com os patrocinadores, com as TVs, com o público, fãs e toda a sorte de motivos que possam, por mais nublados e superficiais que pareçam, dizer que o melhor é ficar quieto.
O país passa por um momento delicadíssimo, desde o ano passado. São constantes as manchetes de que há condutas desrespeitosas aos direitos humanos por parte dos policiais do Reinado contra os oposicionistas xiitas. Até mesmo policiais estão sendo acuados com a violência. Bernie tenta dizer que a prova será pacífica, mas manifestantes prometem um “dia de fúria”. A equipe MRS, participante da categoria Porsche Supercup, que fará uma corrida preliminar ao GP do Bahrein de F1, anunciou nesta quarta-feira que desistiu de correr na etapa, por preocupações com as condições de segurança. É no mínimo cutucar a onça com um palito de dente. Eu torço para que nada de mais aconteça e tudo saia nos conformes, mas essa é uma mancha para a F1, como tantas outras que serão lavadas com o tempo. Mas o pano vai ficando gasto. Se o pano for o de um turbante, será triste demais saber que um simples “não” poderia evitar um possível rasgo.
E para quem se perguntou o que é Zhōngguó, é China em chinês.
Resultado Final – GP da China:
1º. Nico Rosberg (ALE/Mercedes), 56 voltas em 1h36min26s929
2º. Jenson Button (ING/McLaren-Mercedes), a 20s6
3º. Lewis Hamilton (ING/McLaren-Mercedes), a 26s0
4º. Mark Webber (AUS/Red Bull-Renault), a 27s9
5º. Sebastian Vettel (ALE/Red Bull-Renault), a 30s4
6º. Romain Grosjean (FRA/Lotus-Renault), a 31s4
7º. Bruno Senna (BRA/Williams-Renault), a 34s5
8º. Pastor Maldonado (VEN/Williams-Renault), a 35s6
9º. Fernando Alonso (ESP/Ferrari), a 37s2
10º. Kamui Kobayashi (JAP/Sauber-Ferrari), a 38s7
11º. Sergio Pérez (MEX/Sauber-Ferrari), a 41s0
12º. Paul di Resta (ESC/Force India-Mercedes), a 42s2
13º. Felipe Massa (BRA/Ferrari), a 42s7
14º. Kimi Raikkonen (FIN/Lotus-Renault), a 50s5
15º. Nico Hulkenberg (ALE/Force India-Mercedes), a 51s2
16º. Jean-Éric Vergne (FRA/Toro Rosso-Ferrari), a 51s7
17º. Daniel Ricciardo (AUS/Toro Rosso-Ferrari), a 1min03s1
18º. Vitaly Petrov (RUS/Caterham-Renault), a 1 volta
19º. Timo Glock (ALE/Marussia-Cosworth), a 1 volta
20º. Charles Pic (FRA/Marussia-Cosworth), a 1 volta
21º. Pedro de la Rosa (ESP/HRT-Cosworth), a 1 volta
22º. Narain Karthikeyan (IND/HRT-Cosworth), a 2 voltas
23º. Heikki Kovalainen (FIN/Caterham-Renault), a 3 voltas
Não completou:
Michael Schumacher (ALE/Mercedes), abandonou na 12ª volta
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