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Zhōngguó (2)

São Paulo (Demorei!) – Queimei a língua. Nico Rosberg e sua Mercedes subiram no lugar mais alto do pódio na China, quem diria. Mas eu avisei que estava torcendo por um resultado como esse, visto que a pista em Xangai favorece os prateados alemães.

Eu não achava que a Mercedes fosse ganhar, mas ganhou. E parece que as coisas estão mudando um pouco nessa temporada. Nico, que pela primeira vez venceu na Fórmula 1, é o primeiro vencedor diferente em 3 anos, se não me engano desde Mark Webber em 2009, no GP da Alemanha. E, antes de entrarmos nos detalhes da prova, umas estatísticas dessa vitória de Rosberg: o alemão é o quinto piloto da história a ter demorado mais para ganhar sua primeira prova, que conseguiu somente após 111 GPs, atrás do australiano Mark Webber (130 GPs), do brasileiro Rubens Barrichello (124), do italiano Jarno Trulli (117) e do inglês Jenson Button (113). Para aumentar a importância do feito, Nico também é apenas o segundo filho de campeão mundial a vencer uma corrida de Fórmula 1. Seu pai, o finlandês Keke Rosberg venceu o título em 1982. O outro foi Damon Hill, filho de Graham Hill, bicampeão em 1962 e 1968.

Três corridas, três vencedores diferentes, cada um de uma equipe. Esse triunfo do time de Ross Brawn põe mais pimenta no molho da F1 neste começo de temporada. A Mercedes deve brigar por mais do que pontos e é válido pensar que pode beliscar umas vitórias, já que a Red Bull não se achou ainda e a Ferrari vai sobrevivendo como pode. E a McLaren tá lá, aparecendo em tudo que é foto com seus dois pilotos e assim lidera as duas classificações. Hamilton, terceiro na prova, assumiu a ponta com 45 pontos e nenhuma vitória (foram três terceiros lugares). Button, segundo em Xangai, vem logo atrás com 43 pontos

Fato é que Nico soube aproveitar sua pole e largou bem, parando um pouco mais tarde que os outros por ter feito poucas voltas na classificação, tendo mais borracha para gastar num carro que devora pneus com fome de glutão. E deu sorte de ter Button e Hamilton largando lá atrás, senão a disputa pelo primeiro lugar seria bem mais intensa do que a aparente folga que os 20 segundos de vantagem para Jenson apontaram. Além disso, Button teve um probleminha num dos pit stops e voltou meio atrasado para a pista. Mesmo assim, não chegaria em Nico, que fez duas paradas contra três do time de Woking.

A McLaren parece ter até agora o carro mais forte do circo, mas vai ter de lidar com a luta interna entre dois campeões e que são novamente postulantes ao título. Liberar a briga entre seus pilotos é praxe na escuderia, só que isso pode se tornar uma vantagem para Rosberg, que claramente vislumbra uma luz. Que comemore muito enquanto pode e aproveite o bom momento para pontuar o máximo que der. Talento ele tem, e agora, também tem carro.

Seu companheiro, Schumacher, poderia igualmente ter feito uma boa prova, mas perdeu a corrida num erro de box, quando foi liberado antes da roda dianteira direita estar totalmente presa e teve de abandonar. Triste. Queria ver o heptacampeão de novo no pódio.

A Red Bull está claudicante, sentiu o golpe da proibição do difusor soprado e o carro ficou instável demais na parte traseira. Nem o “novo” escapamento velho de Vettel deu resultado satisfatório. É bom lembrar que a equipe austríaca vem com um novo pacote para a temporada europeia a partir de Barcelona, mas antes tem de se virar como pode no GP do Bahrein, no próximo domingo. Sebastian largou em 11º e vinha jantando todo mundo, até ser o 2º a duas voltas do fim, mas foi sendo ultrapassado e garantiu um 5º lugar ao menos, sofrendo com o desgaste de pneus. Webber achou que seu carro tinha asas e quis voar na zebra; quase conseguiu e chegou em 4º. É importante conseguir o máximo possível de pontos nesse começo antes de tentar dar a virada na Espanha.

Boa corrida também fez Grosjean, que conseguiu completar uma prova esse ano, 6º lugar para ele. Já Kimi Raikkonen apostou numa estratégia e não deu certo. De repente, perdeu 10 posições em duas voltas. A Lotus tem um bom carro, mas é bom ficar de olho com tantas chances perdidas. Eric Boullier que o diga; está perdendo cabelos com isso.

E a ótima suspresa do GP chinês foi a Williams, que fez um carro acertadinho e que casou muito bem com o motor Renault. Bruno Senna repetiu o bom desempenho da última prova e, com ultrapassagens arrojadas e muita vontade, fez um bom 7º lugar com consistência. Só que de novo se encontrou com Felipe Massa, dessa vez na largada. Deu sorte que o pedaço da asa dianteira que quebrou não fez muita falta. De lambuja ainda chegou na frente do companheiro Pastor Maldonado e vai se firmando como escolha certa da equipe. O venezuelano chegou uma posição atrás após um ótimo duelo com Alonso e fechou a conta para o time de Grove, com os dois carros nos pontos. Sir Frank Williams deve estar sorrindo até agora.

Por falar em Alonso e Massa, a cada dia constatamos que a vitória do espanhol foi mesmo mágica, quase um alinhamento interplanetário. A Ferrari é um Fiat 147. Não anda e quase atrapalha quem vem atrás. É de chorar. Fernando foi 9º e Felipe o 13º, o que mostra a real posição do time nesse início de campeonato. E o brasileiro ainda não pontuou. Ao menos o time acertou nas táticas de corrida (apenas duas paradas para Massa), mas o carro é imprevisível no comportamento, do dia para a noite ele muda a reação. O gato subiu no telhado para o time vermelho. Além de tudo isso, essa semana se confirmou na imprensa italiana que Sergio Pérez fará testes em Mugello no começo de maio, antes de Barcelona, na pré-temporada europeia. O óleo da fritura de Felipe vai se esquentando ao poucos…

Checo, por sua vez, merece um puxão de orelhas de Peter Sauber. Na hora que estava sendo ultrapassado por Kobayashi na reta quase jogou o companheiro pra fora da pista. O mexicando vem adando bem ultimamente, mas o segundo lugar não dá permissão para querer ser estrela da equipe. E o japonês decepcionou na corrida. Tinha gente apostando em pódio (este que vos escreve, inclusive), mas o 10º lugar pareceu muito pouco pelo que vinha sendo mostrado. A equipe tem um bom carro e uma boa dupla, mas essa instabilidade atrapalha um pouco.

De resto, a Force India foi a melhorzinha com Di Resta em 12º e Hulkenberg em 15º, corrida honesta da equipe, que mostra algum potencial para ficar à frente do resto. E o resto fez o de sempre, duas Toro Rosso, uma Caterham, duas Marussia, duas HRT e a outra Caterham.

O problema agora é ver como será o GP do Bahrein, em Sakhir. Manifestantes prometeram atuar durante a prova e nas imediações do autódromo contra a corrida. A polícia barenita já disse que não tem como garantir total segurança para o fim de semana. Os milhares de dólares recebidos por Bernie parecem ter jogado areia nos olhos da categoria, que faz vista grossa para a situação do país. Teve até mecânico que se recusou a viajar. Os pilotos não vão se manifestar, vão se comportar como cordeirinhos e correr como o chefe mandar. Bando de bundões. Poderiam ter uma consciência política aflorada, haja visto como o mundo está globalizado e não há como deixar de ver o que acontece, mas preferem se omitir. Poderiam falar um simples “não, não vamos correr e pronto”, e adiar essa prova. Mas, por negligência, vão ignorar o que está do lado de fora. A pilotaiada já foi mais ativa, mas parece que têm medo de manchar a imagem, de ficar mal na fita com o chefe, com os patrocinadores, com as TVs, com o público, fãs e toda a sorte de motivos que possam, por mais nublados e superficiais que pareçam, dizer que o melhor é ficar quieto.

O país passa por um momento delicadíssimo, desde o ano passado. São constantes as manchetes de que há condutas desrespeitosas aos direitos humanos por parte dos policiais do Reinado contra os oposicionistas xiitas. Até mesmo policiais estão sendo acuados com a violência. Bernie tenta dizer que a prova será pacífica, mas manifestantes prometem um “dia de fúria”. A equipe MRS, participante da categoria Porsche Supercup, que fará uma corrida preliminar ao GP do Bahrein de F1, anunciou nesta quarta-feira que desistiu de correr na etapa, por preocupações com as condições de segurança. É no mínimo cutucar a onça com um palito de dente. Eu torço para que nada de mais aconteça e tudo saia nos conformes, mas essa é uma mancha para a F1, como tantas outras que serão lavadas com o tempo. Mas o pano vai ficando gasto. Se o pano for o de um turbante, será triste demais saber que um simples “não” poderia evitar um possível rasgo.

E para quem se perguntou o que é Zhōngguó, é China em chinês.


Resultado Final – GP da China:

1º. Nico Rosberg (ALE/Mercedes), 56 voltas em 1h36min26s929
2º. Jenson Button (ING/McLaren-Mercedes), a 20s6
3º. Lewis Hamilton (ING/McLaren-Mercedes), a 26s0
4º. Mark Webber (AUS/Red Bull-Renault), a 27s9
5º. Sebastian Vettel (ALE/Red Bull-Renault), a 30s4
6º. Romain Grosjean (FRA/Lotus-Renault), a 31s4
7º. Bruno Senna (BRA/Williams-Renault), a 34s5
8º. Pastor Maldonado (VEN/Williams-Renault), a 35s6
9º. Fernando Alonso (ESP/Ferrari), a 37s2
10º. Kamui Kobayashi (JAP/Sauber-Ferrari), a 38s7
11º. Sergio Pérez (MEX/Sauber-Ferrari), a 41s0
12º. Paul di Resta (ESC/Force India-Mercedes), a 42s2
13º. Felipe Massa (BRA/Ferrari), a 42s7
14º. Kimi Raikkonen (FIN/Lotus-Renault), a 50s5
15º. Nico Hulkenberg (ALE/Force India-Mercedes), a 51s2
16º. Jean-Éric Vergne (FRA/Toro Rosso-Ferrari), a 51s7
17º. Daniel Ricciardo (AUS/Toro Rosso-Ferrari), a 1min03s1
18º. Vitaly Petrov (RUS/Caterham-Renault), a 1 volta
19º. Timo Glock (ALE/Marussia-Cosworth), a 1 volta
20º. Charles Pic (FRA/Marussia-Cosworth), a 1 volta
21º. Pedro de la Rosa (ESP/HRT-Cosworth), a 1 volta
22º. Narain Karthikeyan (IND/HRT-Cosworth), a 2 voltas
23º. Heikki Kovalainen (FIN/Caterham-Renault), a 3 voltas

Não completou:
Michael Schumacher (ALE/Mercedes), abandonou na 12ª volta

 

Todas as fotos – © DR/ Nextgen-auto.com

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Entressafra

Lúcio, zagueiro, foi ídolo no Bayern de Munique

São Paulo (das Ende?) – Lendo o site do jornal alemão Bild, deparo-me com uma matéria falando sobre a diminuição do contingente de brasileiros no futebol germânico. E, por alguma razão, não me causou espanto.

O artigo mostra algumas estatísticas e cita jogadores brasileiros que chegaram com pompa e alarde à Bundesliga e fracassaram na mesma proporção. E aponta alguns fatores, já conhecidos de todos na terra brasilis.

Foram 122 futebolistas brazucas desde 1964, quando a liga recebeu o primeiro deles (Zezé, no Colônia). Atualmente são apenas 17 brasileiros jogando na Alemanha e o número tende a cair mais.

Elber também encantou os bávaros com seus gols

Elber também encantou os bávaros com seus gols

Presidentes de grandes clubes afirmam que o mercado para o Brasil está morrendo e que o caminho é apostar em jovens alemães ou comprar e complementar a equipe com alguns dos melhores jogadores europeus.

Motivos? Um deles é o idioma. Não é nada fácil aprender alemão, mas mesmo assim, falta vontade de aprender.

Grupo. Onde quer que os brasileiros joguem em uma equipe, eles passam o tempo livre juntos, isolando-se de outros jogadores.

Falta clareza nas negociações. Atualmente jogadores são como uma pizza: cada fatia é de um grupo ou empresário diferente, emperrando a transação.

Dedé jogou 13 anos no Borussia Dortmund

Dedé jogou 13 anos no Borussia Dortmund

Adaptação. Brasileiros demoram muito para se adaptar, raramente conseguindo atingir seu máximo no primeiro ano.

Finanças. Os brazucas estão custando caro e pedindo alto. O mercado aqui cresceu e se pode ganhar bem no Brasil.

Novos mercados. A Ásia e a Arábia estão atraindo mais investimentos pelo retorno. E os brasileiros estão diminuindo em quantidade no mercado europeu em geral. É só fazer as contas.

Traçando um paralelo com o que acontece aqui atualmente, o futebol virou um mero balcão de negócios. Está aí a Copa São Paulo de Futebol Júnior que não me deixa mentir.

André Lima - € 3,5 milhões e só um gol em 10 jogos

André Lima - € 3,5 milhões e só um gol em 10 jogos

Há muito tempo esse torneio deixou de revelar craques. Quase 100 times, com moleques que mal têm o que comer no caminho enfrentando outros que têm psicólogo e até assessor de imprensa. E todos vistos como gado, para serem vendidos e encher o bolso dos atravessadores. O moleque é jogado aos tubarões, mal sabe se virar sozinho e é vendido para fora de qualquer jeito para dar lucro aqui, fracassando perante seus empregadores e ratificando essa visão que os gringos têm dos brasileiros.

Não que ganhar dinheiro com a venda de jogadores seja errado, pelo contrário. O capitalismo está aí para dar lucro a quem faz negócios, e tem muita gente de bem trabalhando para ganhar o pão de cada dia.

Mas será que dessa Copinha irá sair algum craque que valha a pena ser contatado para jogar nos gramados de um dos países top do mundo atualmente?

Bernardo (esq.) fez só seis jogos no Bayern em 1991

Bernardo (esq.) fez só seis jogos no Bayern em 1991

Será que os germânicos vão querer investir num jogador que, via de regra, é desagregador, que não tem base cultural, que não quer aprender, que custa caro, que tem pessoas inescrupulosas por trás e mais um monte de más qualidades?

Andei vendo alguns jogos da edição 2012 da Copinha e é triste ver o baixo nível e a falta de propósito com a formação de um jogador, um craque, um cidadão. Isso é um apontador do que se trata a matéria do Bild.

O futebol brasileiro está numa descendente há tempos. Assim como o automobilismo de base e outras coisas. Mas isso, infelizmente, já não me espanta, dado o nível dos dirigentes e dos que detêm o poder (e de alguns jogadores que se sujeitam a isso também). O que me espanta é que parece que isso vai demorar muito a mudar. E aí é tarde demais.

Alex Alves (dir.), ao lado de Marcelinho Paraíba, colecionou mais polêmicas que gols

Alex Alves (dir.), ao lado de Marcelinho Paraíba, colecionou mais polêmicas que gols

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Turista acidental

BARREIRAS/ BA (hora de voltar) – Está chegando ao fim minha passagem pelo interior da Bahia. A cidade de Barreiras, no extremo oeste baiano, foi uma grata surpresa que pude conhecer por esses três dias (e meio, já que retorno na sexta). Como nunca tinha estado na região nordeste do país antes, essas novidades todas me deixam com outra visão sobre o Brasil. De verdade.

Vista aérea parcial de Barreiras (BA)

O jornalismo me deu algumas oportunidades de conhecer lugares que eu não imaginava estar tão cedo, ou nem imaginava existir. E conhecer essas localidades, pessoas, costumes, culturas, dialetos, culinárias e demais regionalidades é uma das coisas que mais me alegra nessa vida.

Quase que centralizada na região, Barreiras fica a mais ou menos a duas horas de carro de Goiás, Tocantins, Maranhão e Piauí, mas a distantes 871 km da capital Salvador. Esse pedaço da república tem algumas características diferentes, dizem que aqui não se parece muito com o resto da Bahia (algo semelhante à Miami ou Las Vegas, que falam que não é bem de fato os EUA real), então, só se estando no local para ver que é mesmo um pouco diferente do esperado.

Recentemente os meios de comunicação nacionais deram destaque à possível criação de mais dois estados no Brasil dentro do atual Pará: Tapajós e Carajás. Esse movimento “separatista” também é muito forte por aqui. Nesta região apóia-se a criação do estado do São Francisco.

Muitos com quem conversei estão descontentes com a as administrações municipais e estadual. Só hoje (quinta-feira) rodei mais de 400 km para fazer meu trabalho e em várias cidades as pessoas entravam nesse assunto. A região é riquíssima em minerais e tem um imenso potencial agrícola, mas a imprensa reclama da falta de atenção com a região, por isso querem um estado novo. Não sei se é herança de Canudos, mas é forte o movimento para isso. Adesivos, faixas, banners, movimento político, manchetes de jornais, sempre tem alguma linha sobre o assunto pipocando aqui e acolá. Dizem que já se tem até um hino estadual, datado de antes de 1950, e ideias sobre essa separação em documentos do séc. XIX.

Ressalto que só estou reproduzindo o que tenho ouvido por aqui, mas não pude saber o outro lado (do governador Jaques Wagner, do PT) e acho que nem vou conseguir fazer isso. Só estou de passagem por Salvador (onde conheci só o aeroporto).

Eu sou a favor de recortar o Brasil em mais uns 18 estados. Pelo menos uns seis no Amazonas. Embora se tenha uns contras que são uma maior oportunidade para desvios de dinheiro, corrupção, mais deputados, senadores, mais gastos com a máquina pública, estados menores dão menos trabalho para ser administrados e têm bom potencial de crescimento. Um exemplo disso é o Tocantins, estado mais novo da federação, que cresceu a passos largos (basta ver os números disso apontados pelo IBGE).

As cidades da região pedem por um desenvolvimento. São mais de 150 mil barreirenses e uma demanda por modernização que não chega facilmente pela distância da sede do governo estadual. As estradas são precárias e sem acostamento a maior parte do tempo, e têm mato crescido nas beiradas, encobrindo as já raríssimas placas, que caem ou são arrancadas e não são repostas. O asfalto é coalhado de buracos e deformidades que judiam de qualquer suspensão e amortecedor, além de estar mal sinalizado. As ruas das cidades aqui, quando não são de terra, também têm um asfalto péssimo, acho que o primeiro que foi feito e nunca mais foi remendado ou recapeado. Falta certa ordem em uns setores, mas é visível ver que o povo quer crescer, só precisa de uma ajuda a mais.

Fui extremamente bem recebido em todas as redações que visitei. Os colegas se simpatizam com quem dá atenção às causas locais, ainda mais quando digo que represento uma empresa que está investindo pesado aqui pela descoberta de um metal estratégico raríssimo no mundo, só encontrado no Cazaquistão e na China, e agora aqui em Barreiras: o tálio. As mídias locais relatam o descaso político o tempo todo, reclamam que os administradores, alçados aos cargos para transformar, melhorar, mudar e crescer, não fizeram seu papel. Isso em mais de uma cidade. Querem renovação. Querem oportunidade de crescer. Com essa descoberta do minério, sentem que a hora é essa. E aqui também apóiam a criação dos dois estados no Pará, além de contar com a simpatia do governo do Tocantins para a criação do estado do São Francisco.

A região é belíssima. Há encostas de morros com chapadas de tirar o fôlego pela beleza, rios limpos e cheios de vida, com cascatas, corredeiras e muito potencial turístico. Até o aeroporto local, construído num planalto elevado, foi bancado por ingleses na época da II Guerra (e permanece com a estrutura original até hoje), mas não há uma placa ou algo que indique isso, só histórias dos locais. Mas a vista de lá de cima é maravilhosa. É só ter vontade de fazer direito que a coisa sai do papel.

Já parto com vontade de voltar em breve, mas quero voltar para conhecer mais do que as avenidas principais e a pousada onde me hospedo, que é ótima. Comi melhor aqui do que em alguns restaurantes de São Paulo, com mais qualidade e preço menor. Não me fartei da culinária tradicional (acarajés, moquecas, vatapás e afins), mas quero experimentar alguma coisa quando puder. Fui muito bem tratado por todos, desde os colegas jornalistas, pelo pessoal da empresa e até balconistas de estabelecimentos comerciais que me preparam um simples café expresso.

Gosto disso, de tomar um café em lugares diferentes, de conversar com gente e absorver essa aura local. Essas pessoas gostam de falar de sua história, de suas aventuras, de saber como é a vida fora do seu círculo, e com isso eu me identifico demais. As cidades têm uma simpatia e um ritmo próprios, com suas igrejinhas centrais, pessoas sentadas em cadeiras na calçada, chapéus e chinelos de dedo, coisa bem de interior. Vou guardar com carinho essa viagem onde pude ser um turista acidental nessa região do Brasil, que em breve pode ganhar novas linhas e um SF como sigla. Torço para isso.

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Ah, carros…

SÃO PAULO (já valeu o dia) – Acordei cedo para ir trabalhar e enquanto tomava o café, fiquei acompanhando a cerimônia do casamento real na Inglaterra. Meu atual trabalho não tem nada a ver com esportes ou automobilismo ou carros, mas essas minhas paixões me seguem a todo momento.

E eis que vejo o príncipe William sair com sua esposa Kate nesse brinquedinho aí abaixo. Depois disso, não precisava ver mais nada…

Príncipe William passeia com Kate Middleton em um Aston Martin Volante

Digo brinquedinho sim, porque o que diferencia os homens dos meninos é o preço dos brinquedos. Esse carro aí é um Aston Martin Volante DB6 MKII, de 1969, movido a etanol feito a partir de vinho.

O príncipe William pegou o carro emprestado do pai, o príncipe Charles, para passear com sua esposa após o casamento real. Esse é o automóvel de lazer de Charles desde o seu aniversário de 21 anos – um presente de sua mãe, a rainha Elizabeth. Mas é pouco usado; roda cerca de 500 km por ano, apenas.

O charmoso conversível, com direção do lado direito segundo rege a mão britânica, estava decorado com fitas, balões e latas amarradas no para-choques e na placa de trás estava gravado“JU5T WED” (uma corruptela para recém-casados, em inglês). A letra L na grade dianteira é usada no Reino Unido para identificar os motoristas em aprendizado (“learning”), mas pela decoração com coraçõezinhos deve ser uma brincadeira com love.

Podem até achar bobo, mas eu gosto dessas tradições e de quase tudo relacionado à família real inglesa. A começar por um de meus sobrenomes, que é Bradbury, inglês típico. Outro porque, a Abadia de Westminster, além de toda a história e importância que a cerca (dêem um google para saber mais coisas, vale muito a pena), é um dos marcos do presbiterianismo, religião que pratico. E o hino inglês, o God Save The Queen, é um dos hinos tradicionais da Igreja Presbiteriana, embora com outra letra totalmente diferente (a mesma coisa ocorre com a melodia do hino alemão, que cantamos com outra letra) em português.

É bacana tudo isso. São detalhes e tradições históricas que ainda mexem com quase todo mundo. É um conto de fadas em tempo real, transmitido ao mundo pela TV e internet com audiência estimada em pelo menos 2 bilhões de pessoas (pelo menos algumas mulheres agora têm uma ideia porque os homens gostam de ver um jogo importante de futebol na TV). São títulos de nobreza, condecorações, rituais, protocolos, convidados importantes como monarcas, reis e rainhas do mundo, chefes de estado, celebridades, tudo com pompa e circunstância. É divertido, faz o mundo real que a gente vive parecer menos chato.

Essas coisas são necessárias, no meu ponto de vista. Há quem não ligue, não ache a mínima graça. Mas essa cerimônia, coisa rara de ser ver pela TV e ao vivo, mesmo com uma grande dose de cafonice, é uma pequena fuga para nossa imaginação recuperar aqueles sonhos de infância em que tudo era bom e o mundo sorria para nós. Além do que, isso é a história sendo escrita nos nossos narizes, coisa que estarão nos livros em breve, mostrando a importância dos fatos.

Se um dia William for Rei da Inglaterra, esse casamento será obrigatoriamente citado como marco em sua trajetória. Pelo menos, com essas malfadadas linhas, eu estou aproveitando o momento histórico à minha maneira. E vendo tudo isso, tive vontade de ser príncipe por um dia para poder passear com minha princesa num carrinho desses.

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De novo, infelizmente…

SÃO PAULO (triste²) – Aconteceu de novo. Mais um piloto acabou morrendo em Interlagos. Mas antes que se comece a demonizar a pista, tudo leva a crer que foi uma fatalidade o que aconteceu com Paulo Kunze, piloto da categoria Light da Stock Paulista, que usa os antigos Chevrolet Omega da Stock Car fabricados entre 1993 e 1998, com quase toda a carenagem feita em fibra de vidro e com gaiola reforçada de tubos de aço.

Kunze, piloto e empresário e um dos dinossauros da categoria, tinha 67 anos acabou por falecer ontem (quarta) pela manhã em decorrência dos ferimentos após o acidente, ocorrido na entrada da reta oposta em Interlagos, no último domingo.

Fica difícil saber as reais causas da morte sem um vídeo da batida, apenas com as notícias e relatos de testemunhas que afirmam que o Omega de Kunze bateu em outros dois carros antes de capotar e saltar por sobre a barreira de proteção, indo cair fora da área de segurança da pista. É tolice querer analisar isso e saber as causas do acidente, seria só especulação que não leva a nada. E nem tenho de analisar nada, isso cabe às autoridades competentes.

Outra coisa, a morte dele não tem nada a ver com a idade. Para desmistificar isso, temos na Fórmula Truck o interminável Pedro Muffato, com seus 70 anos, que ainda dá muito trabalho para os mais jovens na categoria dos caminhões. Só vi Paulo Kunze uma vez, de relance, numa das etapas de 2008 ou 2009 da Stock Paulista, não lembro direito. Me chamou a atenção o fato daquele homem já de cabelos meio brancos ainda pilotar.

Mas esse acidente é mais um alerta para que a CBA trate de fazer as coisas direito na parte de segurança do automobilismo nacional. São várias categorias filiadas à entidade, que é responsável por zelar pela segurança delas, dos autódromos e dos astros do espetáculo – os pilotos. Esse ano já foram três mortes em Interlagos (um fotógrafo num track day de moto, Sondermann e Kunze), mais um mecânico numa prova de rua de kart em Jarinu. Ano passado foi uma morte em Fortaleza numa prova de monopostos, outra em Curitiba na arrancada, mais uma em Cascavel numa corrida de kart.

A bruxa está solta. Mas falta força de vontade para tirar o traseiro das cadeiras e começar a fazer algo que realmente seja eficaz para acabar com essas fatalidades, que nem são tão fatalidades assim vide o descaso com o esporte no Brasil todo. O alerta já está aceso faz tempo. Que os responsáveis pelo automobilismo nacional comecem a agora, pois, a rever e aumentar ainda mais os padrões de segurança, seja dos circuitos, seja dos carros e dos equipamentos de segurança, como bancos, capacetes, chassis, estruturas, macacões, equipes de resgate, e tudo mais que envolva o automobilismo.

Tome como exemplo a Nascar, nos EUA, que há dez anos não tem um acidente fatal. Lá a segurança é item primordial, com análises minuciosas e extremamente criteriosas antes do começo de cada temporada. Se não se tem condição de correr, não corre. Já que por aqui gostam tanto de copiar o que vem de fora, que copiem isso, pelo menos.

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Genial!

SÃO PAULO (magnífico!) – Quem abrir a página do Google hoje vai encontrar esse filmete aí, com música de vaudeville, tema recorrente de piano no cinema mudo e um estilo muito peculiar e bonito de gênero musical.

Mas o filmete é uma linda homenagem ao gênio Charlie Chaplin, que imortalizou seu personagem Carlitos. Seria o centésimo vigésimo segundo aniversário deste mestre da arte.

Já vi quase todos os filmes dele. E adoro. É um gênio mesmo, no sentido maiúsculo da palavra. Esses filmes são atemporais. Chaplin é o cineasta mais homenageado da história da sétima-arte. É só um pecado que Hitler tenha usado seu bigode de brocha e deixasse como uma marca registrada negativa, anos depois, algo que era um símbolo de humor e paz.

É algo que faz falta hoje em dia, esse humor simples. Coisa que o Roberto Gomes Bolaños, o Chaves, faz com descarada inspiração no mestre e há mais de 30 anos (de reprises) ainda faz rir.

Achei uma maravilha este scketch em preto-e-branco! Enjoy.

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Um, dos, tres, catorze!

SÃO PAULO (I still haven’t found what I’m looking for) – No último sábado à noite fui no show do U2, no “dia de balahda”, como disse o Bono. Foi de arrepiar.

Som perfeito (até o talo, voltei parcialmente surdo), música fantástica, tudo excelente. Até os banheiros estavam num nível de aceitável para cima.

Hoje eles fazem seu último show (de três) por aqui. Mais de 90 mil pessoas em cada um. Ingressos esgotados em minutos. A turnê mais lucrativa da história. Tudo maciço, gigante, megalônamo. Esses também são os sentimentos de quem esteve lá.

Ao entrar no estádio e ver a estrutura (que já podia ser vista de fora, tamanha a altura, de mais de 50m), não há como não parar e admirar, além de uns segundos para tentar compreender o transformer no meio de tudo, que parece que vai sair andando a qualquer momento, que nem no filme Guerra dos Mundos. O show de luzes, as placas de led que formam o telão 360°, o telão que sobe e desce, o telão que se abre, o aracnídeo com canhões de luz que apontam para o céu, as passarelas que se mexem, o palco que tem uns guarda-chuvas estilo Avatar, tudo…

Ainda bem que a música e o ambiente proporcionado pelo rock chamam mais a atenção do que a parafernália eletrônica. Mas é genial. O U2 conseguiu investir e lucrar em algo que não se baixa da internet: interatividade com o público.

Esse valeu cada centavo. Pagaria de novo, com prazer!

Uma palhinha de uma das músicas que mais gosto deles.

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Alguma coisa está fora da ordem

SÃO PAULO (apocalipse now) – Quando acordei hoje (quinta) pela manhã, já pipocavam notícias em todos os meios de comunicação sobre o maluco no rio de Janeiro que abriu fogo contra aluninhos de uma escola pública de Realengo.

Fiquei ouvindo as notícias meio desencontradas sobre o número de mortos, o perfil do assassino, os motivos, as mães em desespero, as crianças apavoradas, a polícia e os bombeiros meio perdidos em meio ao caos. Mais uma vez, chocante.

Todo dia alguma tragédia de maior ou menor magnitude assola as pessoas. Terremotos, tsunamis, vulcões, guerras, explosões, chacinas, acidentes, atropelamentos, assaltos, roubos, etc. Alguma coisa está fora da ordem. Faz tempo!

Tenho uma irmã jornalista, que mora no Rio e é apresentadora do Em Cima da Hora – Edição das 10h, jornal matutino da GloboNews, chamada Raquel Novaes. Normalmente, pela manhã aqui em casa, a televisão fica liga no canal 40, assim a gente vê nossa irmã e se informa um pouco. Hoje só vi seu rosto por uma única vez, já passava de meio-dia. Pararam de mostrar as imagens da escola para ela dizer que um terremoto de mais de 7 graus na escala Richter atingiu a costa do Japão, no mesmo lugar do terremoto de dez dias atrás. Não se pode nem respirar direito. E tome imagens do terror.

Quando eu estava na escola, com meus 11, 12 anos, vez ou outra eu imaginava que seria muito fácil se alguém quisesse entrar armado no colégio. Onde eu estudava ficava entre duas avenidas movimentadas e pela manhã o policiamento era nulo, apesar de ser de frente para um fórum. Era entrar, aterrorizar quem quisesse e sair. Era só pular um dos vários portões e muretas pouco altos que cercavam o colégio. Os alunos mesmos chegavam a pular para matar aula ou buscar uma bola que caía na rua.

Apesar de ter uma vigilância e uma segurança relativamente boa, com quase todos os funcionários dispostos na entrada e em todo o pátio durante o início das aulas, era até fácil entrar alguém no colégio; isso porque era particular. Imagino numa escola pública, afastada do centro.

Culpam a falta de vigilância, a pessoa que deixou o maníaco entrar, o Estado que não rastreou a arma, a Secretaria de Segurança que não pôs ronda próxima à escola, etc. Tentaram colocar a culpa até no bullying que o ex-aluno macabro teria sofrido na adolescência e que tardiamente se revelou na forma de uma vingança sem nenhum alvo específico.

Aliás, essa história de bullying está virando modinha, tudo é bullying. Quando estava na escola, já existia, mas ninguém saiu matando porque era vítima de piadas e outras zombarias dos colegas. Se zoava e era zoado. Se dava apelidos e se recebia apelidos. Nos xingávamos mutuamente e depois fazíamos as pazes. Os piores casos eram resolvidos no braço, ali, na hora, e no dia seguinte já estava tudo bem. Se os pais ficavam sabendo, era ouvir sermão até o fim do ano, fora advertências, suspensões, etc. E ai de quem ousasse levantar a voz a um professor, por mais chato que fosse. Sabíamos que ia dar encrenca.

Antes era pai e professor lado a lado para educar o aluno. O aluno passa um tempo precioso de sua vida na escola, onde ele aprende matérias e aprende a viver, a ver e sentir como funciona a sociedade numa escala menor e representativa, mas é assim que é. Aprende a viver em sociedade, aprende a enfrentar os medos, aprende a se livrar da zombaria e a zombar de volta, aprende até um pouco de boas maneiras se quiser e estiver disposto a receber e assimilar esses ensinamentos.

Hoje perdeu-se o respeito com tudo. Hoje é pai e filho contra o professor, quando não é filho contra pai. É um egocentrismo absurdo. Hoje se fica impune a tudo. Tem pai que acha lindo ver o filho “mostrando personalidade” e batendo nos outros, e fica assim. Hoje se mata por matar. Para ouvir o tombo. A intolerância impera.

Novamente, não há um só culpado por isso que aconteceu hoje. O homem é o culpado. A humanidade é culpada. Desde as cavernas o homem vive em guerra, se matando por terra, por poder, por domínio. O homem é o lobo do homem. E gosta disso. De se mostrar superior. Quer conhecer um homem, dê-lhe poder.

Esse indivíduo afetado que abriu fogo contra crianças sentiu o poder porque tinha uma arma. Se achava mais puro que os outros. E demonstrou poder contra crianças que nada fizeram, que não eram suas inimigas, que nunca praticaram bullying contra ele, nada. Ele não era xiita, não era muçulmano, não era nazista, não era skinhead, não era de seita nenhuma, era um cara estranho, segundo parentes. Estranho é ver que isso está virando corriqueiro.

É sinal de que o fim dos tempos realmente se aproxima. Que Deus tenha piedade de nós.

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Nota triste

SÃO PAULO (vai cedo) – Morreu hoje (ontem, pela hora que escrevo), dia 29/03/2011, em São Paulo, aos 79 anos de idade, o ex-vice-presidente José Alencar. Foi cedo, mas pensando por outro lado, descansou dessa vida, depois de 12 anos de luta contra o câncer.

Quando eu era editor e repórter do G1, fui escalado para ir de madrugada cobrir mais uma internação de Alencar no hospital Sírio-Libanês. Nas redações, apelidavam o político como “Highlander”, em alusão àquele filme de 1986 com o Christopher Lambert, que era o “guerreiro imortal”. E já sabendo do apelido e da fama de Alencar por ter enganado a morte várias vezes, sabia que não seria naquele dia que o Criador iria chamá-lo para compor suas fileiras celestiais.

Fiquei ali, colhendo informações com os assessores e médicos e fiz algumas rápidas amizades, me enturmando com cinegrafistas, assistentes e outros repórteres que passaram a madrugada na porta do hospital, a base de café e pizzas (que alguma equipe de TV comprou após uma vaquinha feita ali, na hora). Todos dizíamos a mesma coisa, que ele ainda ia sair de lá sorrindo e ia viver bastante. E viveu. Esse episódio que relato aqui foi há quase 2 anos.

O Brasil perde um grande homem, mais um exemplo de vida para esse povo. Pena.

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